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Monstros Vs Alienígenas - Novo filme da DreamWorks segue o lema da empresa: Habilidade sem cérebro


No ano passado, quando falei sobre Kung Fu Panda, comentei sobre a sina da DreamWorks: impossibilitada de ser uma Pixar, a empresa se contenta em divertir os pequenos e produzir obras menores. Conquista grande parte do público médio e boas bilheterias. E está contente com isso. A Pixar, sempre primando pela perfeição, faz verdadeiras obras de arte e ganha inúmeros prêmios, mas acaba perdendo no gosto do público, com bilheterias abaixo da concorrente. As premiações do ano passado mostraram essa grande diferença: A Disney/Pixar entrava com duas produções, enquanto Kung Fu Panda era a única produção que fazia frente. Isso porque o filme era o maior achado da empresa desde o primeiro Shrek. M Vs A não tem essa simpatia.

Homenagem aos filmes de ficção científica da década de 50, ele mostra uma equipe de monstros, formada por: Insectossauro, larva modificada por energia nuclear; Elo Perdido, criatura meio homem, meio peixe; Dr. Barata, gênio cientista; Susan Murphy, uma menina gigante e Bob, uma meleca indestrutível(a melhor parte do filme). Juntos, eles devem enfrentar uma ameaça alienígena que vai destruir a Terra.

O plot da história(a idéia inicial) é muito boa. Mas, você mata o resto do filme nos primeiros cinco minutos. Assim, só resta se embasbacar com as fenomenais cenas de ação e procurar as mais variadas referências(que vão de Star Trek até Al Gore). As piadas fracas, o roteiro óbvio e a personagem principal sem graça não ajudam o filme, que perde-se antes da metade.

O problema todo é a sensação de que se essa fosse uma idéia da Pixar, os rumos seriam totalmente diferentes. Você enxerga os momentos decisivos da história, que poderiam seguir um caminho totalmente diferente e tornar a história bem mais interessante. E cada momento que isso não acontece, uma dor corrói por dentro.

Apesar disso tudo, o visual ótimo compensa com certeza uma ida ao cinema. Mas, garanta que a sala onde você vai assistir apresenta a tecnologia dos óclinhos 3D. Senão, vá assistir outra coisa.

3 em 1: Milk, Iris e O casamento de Rachel

Milk - Dir: Gus Van Sant. Com: Sean Penn, Emile Hirsch, James Franco e Diego Luna. O filme mostra a história do primeiro ativista gay eleito nos EUA para um cargo público, até sua morte, onde foi assassinado. Dirigido pelo incrível Gus Van Sant(de Elefante e Paranoid Park) e com atuação surpreendente de Sean Penn, o filme caiu no gosto da academia, se tornado um dos favoritos ao Oscar de melhor do ano. Mas, em um ano onde o cinema independente triunfou com Slumdog Millionaire, sobrou a Milk o reconhecimento pelo roteiro original de Dustin Lance Black e a atuação do protagonista, que derrubou Mickey Rourke, o favorito por O LUTADOR e principal vencedor da temporada. A história é narrada de forma esperançosa. Tanto que, apesar do final triste, a sensação ao final da projeção é otimista. Mas, o diretor não arrisca: nas cenas de maior peso, no relacionamento entre os personagens, não usa da força física que Ang Lee apostou em O Segredo De Brokeback Mountain. E funciona aqui, pois Milk é muito mais sobre política do que sobre o amor. Atrai assim, não apenas simpatizantes do movimento gay, mas aqueles que se identificam com as minorias que Harvey Milk representa.

Iris - Dir: Richard Eyre. Com: Judi Dench, Kate Winslet e Jim Broadbent. Existem filmes que servem apenas de trampolim para atores competentes. Dúvida deu indicações a praticamente todo o elenco, mas teve um desenvolvimento duvidoso(com o perdão do trocadilho). Já Iris tem outro fator curioso: as atuações transformam o resto do filme em apenas um pano de fundo. Se fossem pinturas de cenários ao fundo, ninguém notaria, tamanha competência da quadra no elenco, que justamente teve três indicações e levou o de melhor ator coadjuvante para Jim Broadbent, que destaca-se por sua performance como o marido da escritora Iris Murdoch, a quem o filme se refere. Assim, o diretor apenas acompanha os atores desaparecendo completamente em seus papéis e levando o espectador pela mão, em direção a um final lindamente triste. Essas performances excepcionais contribuem para um filme lindo, que merece ser assistido com um estado de espírito disposto a acreditar no amor.

O Casamento de Rachel - Dir: Jonathan Demme. Com: Anne Hathaway. Do diretor de O silêncio dos inocentes e com a bela Anne Hathaway é difícil um filme desses dar errado. Mudando para um estilo muito mais livre e espontâneo quando opta pela câmera estilo documentário, ele apenas segue as pessoas que fazem parte da vida da problemática Kim. Depois de passar quase um ano em reabilitação por dependência química, ela volta para o casamento de sua irmã Rachel. Ali, antigas feridas do passado serão finalmente expostas entre toda a família. Nessa análise, o diretor faz o espectador e mesmo a personagem acreditar que ela é o centro do filme. Em uma cena constrangedora, ela tenta atrair a atenção dos convidados e desperta na irmã o ciúme e ressentimento que há tanto tempo guardava. Esse processo conflituoso que ela instaura, gera uma reação, e o filme toma rumos inesperados. A interpretação de Anne é digna de sua indicação ao oscar e mostra que a moça só precisava de um bom projeto para se destacar. Um ótimo filme, emocionante em sua simplicidade.

3 em 1 - Volta a coluna com Dúvida, Gran Torino e Orgulho e Preconceito


Dúvida - Direção: John Patrick Shanley. Com: Merryl Streep, Phillip Seymour Hoffman e Amy Adams. Tá certo que o diretor não tem lá um currículo de se invejar. Fez a bomba de 95, Congo e nada mais de muito relevante. Dedicou-se ao teatro, onde escreveu o filme em questão e depois de um sucesso considerável, adaptou ao cinema. E é exatamente o que você vê no filme. Interpretações com força dos protagonistas, que valeu as indicações de melhor atriz e melhor ator coadjuvante. A história mostra um padre e uma freira que se enfrentam quando ela suspeita que ele molestou uma criança. Essa sua obsessão trará efeitos para toda a escola e congregação. Mesmo sendo exageradamente exagerado em certos pontos, o filme tem uma linha muito clara que segue, e termina de maneira curiosa. Deixando dúvidas no ar.

Gran Torino - Direção: Clint Eastwood. Com: Clint Eastwood. Depois de vencer o oscar de Melhor filme por Menina de Ouro em 2005, o diretor-ator ainda trouxe às telas no ano passado o ótimo A Troca, e volta a atuar(por suas declarações, pela última vez) e dirigir em Gran Torino. O filme mostra um veterano de guerra que acabou de perder a esposa e odeia os vizinhos vietnamitas. Quando o mais jovem começa a envolver-se com uma gangue, o velho decide proteger a toda a vizinhança e descobrir assim, uma família inesperada em sua vida. Mais uma vez, Eastwood traz uma história inteligente, forte e muito bem contada. O filme é o epitáfio de seu personagem mais famoso: O estranho sem nome, normalmente, um caubói que aparecia do nada e trazia justiça a pequenos vilarejos. Emocionante, Gran Torino é divertido e inteligente, sempre com um final que surpreende. Uma marca do diretor.

Orgulho e Preconceito - Direção: Joe Wright. Com: Keira Knightley, Judi Dench e Donald Sutherland. O primeiro filme de Joe Wright é uma surpresa pra lá de agradável. Ele dirigiu o excelente(e já comentado aqui) Desejo e Reparação que é na verdade seu segundo filme e concorreu ao Oscar de Melhor Filme em 2008. Orgulho e Preconceito é adaptado da obra homônima de Jane Austen e acompanha a vida de cinco irmãs na Inglaterra do século 18, que pretendem casar. A segunda mais velha, no entanto, acredita que isso nunca vai acontecer pra ela. Quando conhece o Sr. Darcy, acredita que ele definitivamente nunca seria o seu par ideal. Mas, conforme ambos vão se encontrando, a situação parece, lentamente, tomar outra forma. O que poderia ser uma história enfadonha como tantos outros filmes de época, nas mãos de Wright se torna uma experiência cinematográfica e visual incrível. A bela fotografia, as cenas em plano-sequência, os pequenos detalhes e cenários estupendos, fazem com que o filme nem mesmo pareça passar. Destaque para a cena do baile, onde ambos encontram-se momentaneamente sozinhos em um olhar. Um romance para encher os olhos e a alma.

The Spirit: O filme - A cidade dele grita. E nós também.


Foi a primeira vez neste ano que um filme me irritou tanto a ponto de quase abandonar a sessão antes da metade da projeção. Na verdade, a sensação começou nos primeiros frames. A estética exageradamente caricaturada que o "novato" Frank Miller tentou imprimir, acabou mostrando-se um tiro pela culatra. É feia e sem graça, beirando quase a bizarrice. Mas, esse é só o começo da análise. Vamos por partes.

A quem possa interessar, o filme mostra a história de Spirit, um ex-policial que ressucitou após ter sido baleado e vaga por Central City, enfrentando seu arqui-rival Octopus.

Acontece que, ao que me pareceu(e nas entrevistas isso ficou bem claro) Frank Miller passou a se achar aquilo que não é. Depois de co-assinar Sin City com Rodriguez, deu-se ao luxo de criticar George Lucas pela nova trilogia de Star Wars e mesmo menosprezar o trabalho de seu companheiro de primeiro filme. E nessas lufas, se trancou na ratoeira do seu próprio ego: ou o filme ficava ótimo, ou ficava uma droga. Ficou uma droga.

Além de um roteiro pra lá de capenga, personagens enfadonhos, femme-fatales que de sensuais apresentam muito pouco(não consigo ver uma boa interpretação em Eva Mendes. Nunca.), e o visual "incrivelmente inovador", tornou-se apenas uma cópia mal-elaborada do filme anterior. Se você ainda pensar "Ah, mas tem Samuel L. Jackson". Bom, ele é a pedrada final de que Frank Miller não consegue controlar os atores e falha como diretor.

Posso parecer rude e até insensível com a obra do diretor, mas uma decepção nunca cai bem. Piadas de mal-gosto, soluções clichês, e se eu continuar falando, fico a noite inteira xingando a pessoa que teve a péssima idéia de convencer Miller a entrar nessa furada.

Domingo Sangrento - Um retrato dolorido da realidade


Situado nos conflitos entre católicos e protestantes na Irlanda, Domingo Sangrento é, em estilo documentário, um dos filmes mais chocantes produzidos nos últimos anos. A mão de Paul Greengrass tenta durante toda a projeção do filme deixar o espectador como parte dessa história. Por isso a emoção chega tão clara ao final do filme.

O título lembra a música do U2, que foi obviamente, baseada nos acontecimentos desse dia. Os direitos civis irlandeses tentam uma passeata pacífica contra as prisões injustas. Os soldados recebem ordem de impedir, mesmo tendo que usar força máxima. Durante uma confusão, o exército sai atirando a esmo, causando um verdadeiro massacre.

Greengrass é atualmente conhecido por seu excelente trabalho em Supremacia e Ultimato Bourne, cortes rápidos, câmera na mão e muita agilidade. Em Domingo Sangrento, seu lançamento no cinema, essas características apresentam mais paciência com os personagens. Por isso mesmo, foi sensação no Festival de Sundance, saindo como grande vencedor.

Durante todo o filme, a estupidez humana incomoda o espectador. Após o massacre irresponsável das Forças Britânicas, nada foi feito em favor dos irlandeses. Nenhum soldado foi punido e os comandantes responsáveis, foram mesmo condecorados pela chacina. O IRA(grupo revolucionário que usa de violência) tornou-se ainda mais forte. A sensação de injustiça no final bruto do filme deixa um gosto amargo na boca. Sobram os gritos silenciosos de Bono, desejando nunca mais cantar essa canção.

A Última Tentação de Cristo - Uma das melhores adaptações, da maior história de todos os tempos


Chega a época de Páscoa, voltam as adaptações sobre a história de Cristo, assim como no natal, os cinemas e locadoras enchem de diversas histórias malas e sem graça do feriado. A Globo exibe o mesmo santo filme a 10 anos, a Record passa agora a Paixão de Cristo, mas todo mundo renega uma das melhores obras baseadas na história de Jesus. Adaptado do romance de Nikos Kazantzakis pelo polêmico diretor Martin Scorsese, o filme oferece uma visão muito mais humana e menos misteriosa do messias, enfocando a batalha entre alma e espírito que fazem parte de nossa natureza.

Como todos conhecemos a história, basta dizer que o filme mostra essa luta do homem predestinado a ser o messias e morrer na cruz e aquele que deseja simplesmente ter uma família, filhos e viver sua vida.

Encabeçando o elenco, o excelente Willem Dafoe(o Duende Verde, de Homem-Aranha), que começa estranho e parece perdido no papel principal. Acontece que isso faz parte da composição do personagem. Aos poucos, o messias conhecido das escrituras vai surgindo através do carpinteiro relutante. O encontro com João Batista, em um culto primitivo no Jordão é a confirmação da divindade e posterior batismo do Cristo. A partir daí, a estética delicada do diretor joga com fatos conhecidos da vida de Jesus de forma única. A cena da tentação no deserto é uma das melhores já feitas. A convocação dos discípulos, as primeiras missões e a revolta no templo são cenas grandiosas, que não tiveram o destaque merecido no cinema mundial.

O que mais choca as pessoas, talvez seja essa humanização de Jesus, que incomoda a maioria dos cristãos e fez com que a Igreja Católica considerasse o filme herético, assim como diversos países que proibiram a sua exibição. Isso porque, em seus momentos finais na cruz, surge a verdadeira última tentação do messias: um anjo, que se diz mandado por Deus, tira Jesus da do seu sacrifício e o leva a ter uma vida normal. Lá ele casa com Maria Madalena, que desejara por toda sua vida, tem filhos e mesmo amantes. Vive uma vida plena e mostra-se satisfeito. Velho já, prestes a morrer, recebe uma visita de seus discípulos e descobre a duras penas a verdade: o anjo era na verdade Satanás e o Messias sucumbira.

Arrependido, o Cristo caído arrasta-se por escombros e implora o perdão de Deus e a chance de concluir sua missão. Em uma cena grandiosa, vê-se de volta à cruz, no exato momento onde fora buscado. Um Jesus feliz e completo aceita seu sacrifício e morre.

Falho em seu momento final, Jesus reflete a natureza humana já conhecida. Não é mais aquele ser tantas vezes retratado como misterioso, intocável. É humano, padece das mesmas dificuldades e horrores. Tem medo. Erra, tenta consertar. Como nós, não entende a mensagem de Deus em muitas partes de sua vida. Vê rapidamente sua mensagem ser deturpada pelas pessoas próximas e até mesmo por seus futuros seguidores(Paulo em certa cena declara que "As pessoas fazem o que eu mandar, se for em nome de Cristo").

Apesar do filme declarar-se ficção, é difícil o espectador não se envolver com a história. Por isso mesmo, uma excelente dica que fica para a Páscoa, mais um período de reflexão abolido pelo consumo e por obras que mesmerizam o público, sem oferecer qualquer tipo de elemento diferencial para o espírito.

O que fazer em caso de incêndio? - Nostalgia dos tempos de idealismo


Os EUA tiveram um período de produções nostálgicas com o findar da era hippie. Muitos norte-americanos viveram ainda por um longo tempo, sustentando o sonho de um mundo melhor, baseado na paz e amor. O punk surgiu logo depois, como forma de critica à sociedade consumista, à padronização do povo, à perda de identidade. Na Europa comunista, isso chegou mais tarde do que o esperado e essa revolta mostrou-se ainda mais violenta, apoiada pelo movimento anarquista, no final da década de 80, fim do comunismo e perto da queda do Muro de Berlim. A abertura de O que fazer em caso de incêndio, relembra de forma incrível esses momentos de resistência. Os créditos iniciais apresentam uma energia que surpreende e empolga, com paródia aos quadrinhos franceses, além de apresentar um elenco de desconhecidos, de forma criativa. Mas, depois disso, o filme parece não se achar mais em sua proposta.

O filme mostra um grupo de anarquistas que monta uma bomba em 87. O problema, é que ela só detona 13 anos depois, quando a maioria dos 6 já têm emprego, família e outras responsabilidades, e apenas dois mantém viva a chama da revolução. Quando a polícia suspeita do grupo, invade a antiga casa e leva todos os vídeos feitos na década passada, o que pode levar todos à prisão.

Como eu disse, o filme tenta imprimir o tom nostálgico. Mas, por algum motivo, falha. O diretor Gregor Schniltzer tenta nos fazer entender a força que todos abandonaram a antiga vida e estão tentando parecer felizes, mas sentem um vazio no fundo da alma. Isso irrita bastante, a certo ponto. O roteiro também não contribui, quando desenvolve mal bons personagens e fixa-se somente no inexpressivo protagonista Till Schweigger, que por acaso tem um personagem raso demais em suas emoções e conflitos. O mais interessante deles, o publicitário amalucado, é tratado de forma confusa e volúvel, não dá pra entender muito bem.

O visual audaz do filme e a mensagem anti-americana, lembra bastante o excelente Clube da Luta, que critica de forma muito mais forte e potente o comportamento consumista, e, lógico, um visual muito mais elaborado. No final das contas, O que fazer em caso de incêndio? apresenta vários clichês, buracos no roteiro e personagens estranhos, mas diverte. Decepciona também e não se redime no fraco final. Afinal, se é pra protestar, vá com Tyler Durden.

Pagando bem, que mal tem? - O pornô de Kevin Smith


O filme abre com uma cena comum da cidade cheia de neve, um garoto subindo uma lomba de bicicleta. O garoto desatento não nota o carro se aproximando e fica no meio da rua. O carro tenta desviar, bate num poste e o motorista sai xingando o pirralho enquanto ele continua sem nem ligar. Desde os primeiros momentos, você nota o tom anárquico que o veterano roteirista e diretor Kevin Smith imprime no seu trabalho. Zack and Miri Make a Porn, que aqui teve a boa tradução de Pagando bem, que mal tem? é a volta desse que é considerado o mais nerd dos diretores de Hollywood. Depois de clássicos como Dogma, O Balconista e o Império do Besteirol Contra-Ataca, arriscou algumas produções de drama, como por exemplo, Menina dos Olhos, filme com o amigo do diretor, mas infelizmente sem sal, Ben Affleck.

Zack e Miri são amigos desde o jardim de infância e moram juntos apenas para dividir o aluguel, sem qualquer tipo de pretensão sexual ou amorosa. Quando ficam sem dinheiro, decidem que a melhor forma de angariar fundos é fazer um filme pornô. Claro, sem se envolverem amorosamente. A partir daí, você já imagina o que pode acontecer.

O filme não foge da clássica fórmula das comédias românticas. O final é bastante previsível. Mas, esse é um daqueles filmes que valem pela viagem. O humor de Smith é mais afiado e ousado do que a maioria dos diretores desse estilo. Ele sabe como entrar sem resvalar em terrenos considerados intocáveis, e pouco se lixa para a censura que o filme vai levar. O que conta é fazer a platéia rir com piadas inteligentes, nerds, mas também visuais. Também, contando no elenco com a presença do mais famoso make-up do gore, Tom Savini, não teria porque não experimentar.

E o elenco é outro achado. Formado por desconhecidos e alguns outros familiares ao diretor, o filme tem Seth Rogen dominando o elenco e Elizabeth Banks na esteira. Os dois têm química e são divertidos. Mas, quem rouba a cena é o Superman, Brandon Routh, como o ex-popular da escola, agora ator pornô gay, que protagoniza a melhor cena do filme na discussão de relação com seu namorado, Justin Long, o nerd de Duro de Matar 4.0.

Mesmo que alguns achem algumas passagens um pouco bagaceiras, deve-se levar em conta que o desenvolvimento dos personagens e os diálogos mantém um padrão bem alto, ao estilo do diretor. E óbvio, já surgem novos talentos em pequenas pontas...mais um filme para você aproveitar e rir muito!

Bobloteca: A cabana - William P. Young


Para inaugurar esta parte do blog, é interessante falar sobre um dos best-sellers de maior sucesso no último ano. Após tornar-se um fenômeno de venda nos EUA, o livro chega aqui discreto, mas emplaca. Rapidamente alcança sucesso parecido e mantém-se durante boas semanas na lista de mais vendidos. Seria mais um sucesso calcado unicamente na temática cristã que tanto atrai leitores norte-americanos? Ou realmente o livro tem algo diferente a oferecer?

A história parte de uma premissa simples: Após o desaparecimento e brutal assassinato de sua filha, Mack Allen Phillips afasta-se emocionalmente de sua família e culpa Deus pelo seu terrível destino. Após 4 anos, ele recebe um misterioso bilhete o convidando para um fim-de-semana na cabana, onde os indícios do assassinato de sua filha foram encontrados. E esse bilhete é assinado por Deus.

A narrativa começa simples, pelas palavras de um amigo de Mackie, e posteriormente, narração em 3ª pessoa. Os primeiros dois capítulos do livro seguem o know how da literatura americana, nada de espetacular ou inovador. Lembra bastante a linha seguida por Frank Peretti e Sidney Sheldon. Mesmo assim, a história acaba envolvendo aos poucos e surpreende na ousadia com que encara os diversos temas propostos.

A verdade é que qualquer literatura que lembre vagamente o meio gospel parece esbarrar em um muro invisível de dogmas e idéias conceituadas ao longo de 4 séculos. A natureza de Deus, o significado do pecado e as relações humanas são conceitos que não são abordados pela maioria dos escritores desse estilo por medo. Se o público alvo(na maioria dos casos, o cristão norte-americano médio) pensar que o escritor está com idéias diferentes demais do que sua tradição permite, pode sofrer rejeição e ter seu material abolido, tanto do meio que se propõe quanto do chamado meio secular.

São poucos autores que escapam dessa amarra com sucesso. C.S. Lewis, um dos maiores escritores ingleses do século passado, conseguiu com suas metáforasem as Crônicas de Nárnia e outras obras como o Grande Abismo, enxerga a religião sobre um novo prisma. William P. Young, o autor de A cabana, mexe em um vespeiro quando joga por terra muitas das tradições que o povo insiste em não aceitar um novo olhar. Mas, com um resultado extremamente positivo em dois público diferentes.

O livro é basicamente sobre o amor. Denuncia muitas vezes a falsa moralidade tão imposta como método para o céu e chega ao âmago da questão. Tudo se resume ao "ama ao teu próximo como a ti mesmo". A partir disso, o personagem começa descontruir-se em um turbilhão de emoções e sentimentos conflitantes. E aos poucos, essas emoções o forçam a entender a grande questão: Se Deus é tão poderoso, porque não acaba com o sofrimento da humanidade.

Não pretendo neste pequeno espaço esboçar todos os temas abordados no livro, mas ele oferece uma boa percepção que vai além do comum. Tanto para iniciados como para iniciantes. Um bom livro para o fim de semana, leve e descompromissado.

Assim como essa coluna.

Uma nova seção para o blog: a Bobloteca

Com a escassez de lançamentos recentes nos cinemas gaúchos e o aproveitamento do meu tempo em outras mídias, resolvi(inspirado por acontecimentos da última noite) criar essa seção, e assim, expandir a abrangência crítica do blog.

O espaço Bobloteca navega pelos mares da crítica literária, como sempre, trazendo dicas e claro, recomendando ou desrecomendando livros, com uma pitada de acidez e a honestidade necessária.

Enjoy it.

Watchmen: o filme - Adaptando o inadaptável


Quem é iniciado no mundo dos quadrinhos, provavelmente já leu ou ao menos já ouviu falar daquela que é considerada a obra-prima das Graphic Novels, Watchmen. Complexa, intrincada, indigesta e violenta, ela representou uma quebra no formato das histórias em todos os tempos. Jogou um ácido virulento nas formas perfeitas e intocadas dos super-heróis. O super-homem é quase um deus que pouco se lixa para a humanidade e o "Batman" está em crise de meia-idade e é broxa. Nessa realidade paralela os limites morais confundem-se e variam de vigilante para vigilante. Imorais, com um senso de justiça muito próprio, eles impõe a justiça como a consideram correta. Isso tudo, tornou a obra uma referência em todo o mundo e, devido a sua complexidade, disseram que era inadaptável ao cinema. Até Zack Snyder aparecer.

Depois de ressuscitar as franquias de zumbi com o sanguinário Madrugada dos Mortos e adaptar a obra de Frank Miller, 300, com um visual impecável e diferenciado, sobrou pra ele a responsabilidade de passar as telonas uma versão verossímil de Watchmen. A história acompanha um grupo de super-heróis aposentados que começa a suspeitar de uma conspiração, após a morte de um de seus integrantes. Resumindo da maneira mais simples possível é isso. Mas, a complexidade da aventura vai muito além.

Em uma realidade paralela, a influência dos supers, ajudou o governo dos EUA a ganhar a Guerra do Vietnã, alterando toda a história do país. Nixon foi reeleito uma terceira vez, Bob Woodward e Carl Bernstein são apenas uma piada. Diferente daquilo que se imaginava, isso acentuou a decadência moral do país e complicou ainda mais a Guerra Fria, começando o filme com a estruturação do relógio do juízo final: um medidor que analisa a situação e mostra quanto falta para o holocausto nuclear.

Em duas horas e meia, Snyder passa o fio principal da história, bombardeando o espectador com imagens geniais, e diálogos transcritos palavra por palavra dos manuscritos de Alan Moore, que não apóia qualquer adaptação ao cinema(uma longa história). Claro, que você não deve esperar nada do que já tenha visto. Esqueça o ritmo frenético de X-Men, o humor de Homem-Aranha, a benevolência de Superman e mesmo o sombrio light de Cavaleiro das Trevas. O exemplo mais perto que você vai encontrar é no brutal Sin City. E Watchmen vai além.

A trama segue um enredo não-linear. Volta e meia somos bombardeados pelas memórias que ajudam a compreender o estado atual dos personagens. Claro, nos quadrinhos essa abordagem é mais elaborada, mesmo pela questão de tempo. Snyder prometeu uma versão do diretor com mais 40 minutos de filme em breve, e que deve abordar melhor outros elementos da história, que ficaram de fora dessa versão. Há também duas histórias paralelas, lançadas em DVD em 26 de fevereiro: O livro Under the hood, com os segredos dos Minutemen e Watchmen, citado brevemente no filme, e os contos do cargueiro negro, história paralela do garoto que lê gibis e o dono da banca, que passam rapidamente no filme e ninguém entende nada.

Watchmen não é um filme fácil. O espectador que espera mais uma história de super-heróis comum, pode não suportar o peso do filme e abandonar a sala após a primeira hora de exibição. Não é uma história comum e não pode ser levada como tal. Precisa de atenção e disposição para encarar a empreitada. E com certeza, fica mais difícil para quem nunca leu a HQ. E isso também afetou a crítica ao filme. Sem dúvida, ela se dividiu entre aqueles que consideram o filme 8 ou 80. O ritmo lento do desenvolvimento, os inúmeros diálogos, as poucas cenas de ação desanimaram muitos, enquanto maravilharam outra parte. Enquanto alguns prevêem o fracasso, outros vêem a oportunidade do espectador médio evoluir no seu gosto e ainda saem satisfeitos da sala, quando as outras pessoas tentam assimilar o caos que o filme despacha nas mentes despreparadas.

Como tantos outros filmes injustiçados ao longo dos tempos, que mais tarde tornaram-se marcos, Watchmen parece demonstrar o mesmo potencial. Com o Boom! dos quadrinhos no cinema, o preconceito e as comparações podem afetar a análise do filme, o que daqui há uns dez anos, vai tornar o filme um marco na história do cinema em quadrinhos(ou vice-versa). Para esse humilde resenhista esse não é um filme oito ou oitenta. É 100 mesmo.