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Tropa de Elite 2 - José Padilha consagra o gênero dos filmes de máfia brasileiros

Tropa de Elite 2 - José Padilha consagra o gênero dos filmes de máfia brasileiros

NOTA: 9 / 10


Brasil , 2010 - 116 min
Ação / Drama

Direção:
José Padilha

Roteiro:
José Padilha, Bráulio Mantovani

Elenco:
Wagner Moura, André Ramiro, Maria Ribeiro, Pedro Van Held, Irandhir Santos, Seu Jorge, Milhem Cortaz, Fernanda Machado, Tainá Müller



O Capitão Nascimento está mais velho, mais experiente e mais intolerante. Suas crises de ansiedade foram afogadas no mar de sangue da guerra do Bope com o tráfico e agora, ele pode fazer pelo Bope tudo aquilo que a organização proporcionou para ele. Mas assim como a experiência trouxe força e determinação para o Caveira, também acabou com qualquer surpresa e felicidade que uma vida comum poderia oferecer. O casamento destroçado, a distância do filho e de todos com quem se relacionava e o rosto cansado e marcado por suas lutas são parte dessa nova realidade como sub-secretário de segurança e líder da inteligência no governo do Rio de Janeiro. O Bope é uma máquina que funciona perfeitamente, equipada com a melhor tecnologia. O que Nascimento não sabe é que essa máquina pode estar trabalhando para as pessoas erradas e que o seu verdadeiro inimigo não está no tráfico de drogas.

Tropa de Elite 2 mostra os personagens do primeiro filme encarando agora as milícias policiais do Rio de Janeiro pós-tráfico de drogas.

José Padilha relembra Parada 174, seu documentário de estreia com as tomadas de helicóptero e as narrações que pontuam esse novo filme. Pode-se dizer que essa já é uma marca do diretor, que segue mostrando como o Capitão Nascimento vai do inferno à redenção em uma trama muito bem amarrada e conduzida de dar inveja à Francis Ford Coppola e o seu Poderoso Chefão. O que não fica implícito é a violência que como no filme de 74, abusa do sangue e no visual intenso e rápido captado pela câmera visceral de Lula Carvalho que repete em momentos tomadas do primeiro filme acentuando as tonalidades emocionais de determinadas cenas, como por exemplo, na casa mal iluminada e vazia do Capitão Nascimento. No primeiro filme, ela parecia desconexa com a presença de sua esposa e nesse segundo momento, parece confortável com a presença solitária do protagonista.

Wagner Moura consegue com Tropa de Elite 2 marcar sua posição como um dos melhores atores do cinema brasileiro atualmente. Não há papel que pareça desconfortável em sua pele. Seja como ator de comédia ou romance, seja nesse papel que o consagrou, ele sabe como carregar o tom dramático do filme. Sua expressão intacta durante quase todo o filme sucumbe nos momentos finais, perto de sua redenção. O elenco de apoio é competente em seus papéis, seja o monstruoso Rocha ou o malandro Fábio, ou mesmo o apresentador de programa de TV sensacionalista. Mesmo se ao humanista Fraga pareça faltar um pouco de força ao papel, aos poucos o personagem parece ganhar vida própria e tornar-se crível.

O roteiro desse segundo filme consegue aprofundar mais do que apenas na violência crua e, como chamam alguns, fascista de Tropa de Elite. Personagens e situações não existem apenas para para mostrar como funciona o Bope (que aliás, tem papel secundário nesse filme), mas criam relações e sub-tramas intrincadas, dignas de Hollywood. Os diálogos mais ricos colocam em questão a política e a polícia que se importam apenas com dinheiro e poder deixando de lado o povo, de forma cruel e usurpadora.

É essa realidade que perturba em Tropa de Elite. Ver Jason Bourne ou Jack Bauer torturando meio mundo em prol dos Estados Unidos pode parecer exagero ou seque chega a incomodar. Mas ver o Brasil que conhecemos, as instituições que nos são familiares destruindo a confiança do povo que depende e se aproveitando da displicência do poder Público é algo que em certo momento do filme torna-se insuportável. Mesmo porque, nem o próprio Nascimento é capaz de resolver no braço e rende-se aos tribunais em busca de vingança. E o final otimista é mais do que um privilégio da ficção, é um final necessário para que possamos pelo menos, imaginar um país que seja capaz de resolver suas próprias feridas através da justiça.

A Lenda dos Guardiões - Diretor de 300 e Watchmen aposta em animação adulta para renovar o gênero

A Lenda dos Guardiões - Diretor de 300 e Watchmen aposta em animação adulta para renovar o gênero

NOTA: 8,5 / 10

Aventura/Fantasia/Animação
EUA/Austrália. 90 min.

Direção:
Zack Snyder

Roteiro:
John Orloff, Emil Stern, Kathryn Lanski

Elenco:
Jim Sturges, Ryan Kwanten, Helen Mirren, Emilie de Ravin, Hugo Weaving, Sam Neil

Adaptar um livro para o cinema pode estar entre as tarefas mais estressantes já criadas. Primeiro, você tem que condensar uma história lenta e longa os bastante para preencher um livro, preservando pontos principais, mas simplificando a narrativa para que o público espectador se identifique em 1h40 com os personagens que leitores degustaram por semanas. Mais do que isso, tem que agradar os fãs e cativar os novatos. A adaptação então consiste em não apenas transpor o livro para o cinema, mas sim, em criar uma nova história com os elementos conhecidos. E é por isso que tantos naufragam nessa tentativa. Aliar uma boa história também depende da capacidade do diretor em saber manter o pulso firme nos pontos mais relevantes. E nesse caso, A Lenda dos Guardiões sai na frente com bons personagens e a competência habitual do diretor Zack Snyder que transforma um livro aparentemente infantil em uma história para adultos e crianças.

Soren é uma coruja que desde cedo foi criada ouvindo as lendas dos Guardiões de Ga'Hoole. Quando acidentalmente ele e seu irmão caem do ninho onde vivem, se descobrem em um mundo onde as lendas são verdadeiras e o mal é maior do que se imaginou.

Novamente Zack Snyder dirige um trabalho que não escreveu, adaptado de uma série de livros de sucesso em 2005. A produção ganha em ousadia pois o diretor sabe como tornar uma história sombria o suficiente sem cruzar a tênue linha da violência explícita, visto que as batalhas entre corujas no livro tendem a ter inúmeras lacerações e sangue espirrado. Snyder sabe dominar também a tecnologia 3D que neste filme permite a visualização de cenários excepcionais, vôos com profundidade e o mais interessante de tudo, a marca do diretor: O Slow Motion. Como fã da técnica e do diretor, nunca canso das cenas com esse efeito e A Lenda dos Guardiões tem overdoses do estilo. Slow em tudo, até em algumas cenas banais, mas dane-se, o resultado é incrível. Snyder também consegue imprimir as diferenças plásticas e psicológicas entre os personagens ao representar cada um com suas diferentes representações na tela. O exército de St. Aeggis é sinistro como os 300 de Esparta, enquanto os guardiões, não menos estilosos, utilizam suas navalhas e capacetes de forma a usar a luz como arma.

No elenco, é difícil julgar visto que a cópia disponível era dublada. Nada que comprometa o filme, mas fica difícil levar a sério a cobra-cega, Mrs. P. Com uma voz infantil e uma modelagem bastante estranha, não consegui me acostumar com ela, apesar de sua importância na série de livros. No mais, a animação dos personagens, que já era excepcional em Happy Feet, filme anterior do estúdio, continua muito boa. Aliás, a textura dos personagens consegue ser ainda mais real que a do primeiro filme e sua movimentação é algo que poucos estúdios conseguem atualmente.

Como falei antes, realizar uma adaptação é sempre complicado. Acompanho a série há pouco mais de um mês. Nos primeiros minutos, pude notar que o filme toma um rumo diferente dos livros. É difícil entender essa mudança, mas aos poucos ela faz sentido. E não apenas isso, mas cria sua própria mitologia, coerente e que agrada por justamente surpreender todos os espectadores. Nos pontos onde o livro torna-se didático ou desinteressante, o filme passa de forma rápida e interessante. Lamenta-se, infelizmente, que alguns pontos fortes também foram esquecidos, como a tortura psicológica de St. Aeggis e alguns outros momentos fracos e clichês do gênero, repetidos.

Ainda assim, A Lenda dos Guardiões mantém um nível e cria um novo rumo para as animações. Tira do cenário infantil e começa a posicioná-la de forma a recuperar seu elemento de entretenimento para todos. Não se acovarda pelas cenas fortes. Mesmo quando entra o clichê que todos esperam a história toma outro rumo muito mais intenso e deixa um gancho inteligente no final do filme. Essa introdução de diretores conhecidos por filmes que em nada se assemelham com a cultura infantil transforma as animações em uma mistura bastante curiosa.

Se algo tira um pouco do encanto do filme é a trilha sonora, que além de suave demais para o teor da história, não parece se encaixar em nenhum momento. Fora isso, vale curtir o filme e ainda ganhar de brinde, a exibição de um curta do Coyote e Papa-Léguas, bem no estilo Warner Bros. de antigamente.