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Detona Ralph! - Universo gamer é homenageado em animação voltada para as crianças

Nota: 7,5


As adaptações da cultura gamer para o cinema sempre esbarram na mediocridade. Na indecisão de favorecer o público fã ou adaptar para uma realidade cinematográfica, o desastre torna-se inevitável. Dos exemplos de sucesso, mal pode-se citar Mortal Kombat e alguns filmes da série Resident Evil. Em compensação na sessão vergonha alheia, basta lembrarmos daquela versão patética de Street Fighter, com Jean-Claude Van Damme, Super Mario Bros. e Double Dragon, na década de 90. Nos anos 2000, um diretor alemão chamado Uwe Boll conseguiu transformar clássicos dos games em montes de esterco, chegando a levar o prêmio Ed Wood de Pior diretor da década. São dele os trashes como Alone in the Dark, BloodRayne, Far Cry e o já clássico da tosqueira, House of the Dead.
Detona Ralph tenta dar um pouco de dignidade a esse universo que não consegue ter um bom reflexo no cinema. Homenageando desde os arcades até os primeiros consoles, o filme está bem localizado na cultura gamer. Infelizmente, a fachada de gamemaníaco falha quando a história tenta se voltar para as resoluções de fácil assimilação do público infantil.

A história acompanha Detona Ralph, um vilão de fliperama, que tem como missão há 30 anos, destruir o prédio onde vive o protagonista de seu jogo, Fix It Felix. Chega o momento em que Detona desiste de ser um vilão e parte em uma missão para ser o novo herói dos videogames.

Diretor egresso da televisão, de programas como Futurama e Os Simpsons, Rich Moore estreia em longa-metragens também como roteirista. Utiliza de maneira inteligente os detalhes da estética pixelizada dos jogos de 8-bits, cria momentos de ação que emulam os games dos mais diversos gêneros. É na hora da construção dos personagens, como em A Origem dos Guardiões, que o filme acaba perdendo seu impacto. De um começo interessante, a um relacionamento estilo Monstros S.A., Detona Ralph! parece querer forçar o espectador a simpatizar com a menininha levada que é um bug do jogo Sugar Rush, um daquele jogos de corrida com cenários rosas e repletos de product placement. Não apenas os personagens não convencem com sua amizade-óbvia-mas-improvável, como as referências com a cultura gamer desaparecem e a animação passa a ser apenas mais um filme infantil.

O roteiro tenta deixar claro desde os primeiros minutos de projeção que o filme utilizará elementos pops dos games, como é o caso dos personagens de Street Fighter, Super Mario Bros., Sonic e Pac Man em sua narrativa, mas, após uma breve participação especial, eles desaparecem. Sobram apenas os personagens criados para o filme, que não compensam a expectativa criada pelos trailers. Além disso, o mundo do fliperama, com dezenas de jogos participantes, dá lugar ao mundo de Sugar Rush, onde o filme se passa quase que inteiramente.

O que falta a Detona Ralph! é o que sempre falta aos filmes de videogame: a adaptação da linguagem como solução visual para uma história. Até hoje, Scott Pilgrim Contra o Mundo é a melhor interação entre gamers e cinema, mas baseado em uma HQ. Detona Ralph! só deveria ter entendido que utilizar personagens conhecidos não é o suficiente para satisfazer os fãs do gênero.

Origem dos Guardiões - Equipe de super fábulas tem boa premissa, mas não cumpre o que promete

Nota: 6/10



O Papai Noel com os dois braços tatuados (Nice e Naughty), um Coelho da Páscoa australiano (quase um canguru), Jack Frost (praticamente desconhecido no Brasil, onde ele aparentemente não aparece há uns bons anos), a Fada do Dente e o Sandman (João Pestana no Brasil), uma equipe de super-heróis que protegem as crenças infantis do Bicho Papão. Essa premissa empolga. As artes da animação mexem com o espectador. Tudo se encaminha para uma sessão de muita ação e entretenimento. Até começarem os primeiros bocejos.

Dirigido por Peter Ramsey, já conhecido por aquela outra bomba, Monstros Vs. Alienígenas, A Origem dos Guardiões peca pela conversa fiada. As cenas de ação não empolgam pois o inimigo (uma espécie de Loki infantil) não consegue intimidar. É a clássica questão do muito papo para nada. Se ele fosse realmente mau, simplesmente acabava com os guardiões e terminava o filme como senhor do universo. Mas esse não é o problema da direção. A responsabilidade de Ramsey é aproveitar a duração do filme para fazer o público se importa com seus personagens. Mas na tentativa de mostrar todos os detalhes de cada um dos guardiões, o diretor esquece de criar essa profundidade e aligação com o público. As histórias são as mesmas que já foram usadas por tantos filmes: o herói que não aceita seu fardo e precisa descubrir seu valor. Frost não é um personagem tão carismático a ponto de ser um protagonista em um filme que precisa de aceitação mundial.

Soma-se a isso o ritmo lento, intercalado por muitos diálogos vazios e cenas melodramáticas, tornando o vilão um inimigo repetitivo e sem a capacidade de manipulação verdadeira ou perigo de um Loki. Mesmo o visual do filme não explora a capacidade de escala que se tornou marca dos filmes da DreamWorks e, apesar de algumas soluções estéticas interessantes, cai no limbo dos filmes empacotados para uma Sessão da Tarde.

O Hobbit - A versão 2.0 do cinema

O Hobbit - A versão 2.0 do cinema
Nota: 10




Eu lembro que assisti Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel, em duas fitas vhs locadas na minha cidade. Não esperava muito. Me surpreendi. Fiquei hipnotizado. Fui absorvido. Era uma visão do fantástico catártica, elevava os filmes do gênero a outro nível. Nunca mais um filme épico seria igual, Peter Jackson garantiu isso. Foi uma trilogia perfeita, provavelmente, o que Star Wars simbolizou em uma outra época, O Anel marcou a geração dos anos 2000. E quase como Star Wars, a trilogia tornou-se um projeto de hexologia. Mas O Hobbit não tem nada da decepção que foi a Ameaça Fantasma. Pelo contrário, é provavelmente um novo patamar no cinema épico. Provavelmente o melhor filme de fantasia já feito.

Antes de Frodo, Bilbo Bolseiro participou de uma aventura quase tão épica quanto a da Sociedade do Anel. Junto com um grupo de anões, o relutante hobbit, parte em direção a Montanha Solitária, na tentativa de reaver o tesouro e o lar de toda uma civilização. Mas, antes, um dragão terá que ser derrotado.

Diferente do que costumo relatar em minhas críticas, vou enfatizar os pontos fracos do filme antes de me aprofundar nos pontos positivos. Em relação ao excelente livro de J. R. R. Tolkien, O Hobbit difere em alguns pontos que compõe a personalidade do Bolseiro e que considero fundamentais para a narrativa. Existe uma dualidade poderosa em Bilbo, uma guerra entre o lado Tûk  e o lado Bolseiro, que senti falta nessa primeira parte. O protagonista ficou meio esquecido entre a grandiosa história de Torin, as proezas de Gandalf e até quando ganha espaço maior, no duelo de adivinhas, Gollum e sua atuação soberba digital se sobressai. Uma pena. Martin Freeman é um grande ator que poderia levar o filme nas costas se necessário.

O filme também simplifica as lições disseminadas pelo livro para tornar cada parte independente. Heroísmo piegas, resoluções simplistas quase são um problema ao longo das quase três horas de projeção e poderiam diminuir a qualidade de O Hobbit, não fosse suas curtas durações.

Acho que é isso.

Peter Jackson conseguiu novamente. Melhor, ele criou um novo limite no que se refere a adaptações, efeitos especiais e cinema blockbuster. Na adaptação, o filme reúne não apenas a linha principal do livro, mas se dá ao luxo de utilizar seu tempo para investigar inclusive os subtextos e histórias secundárias que despertam completamente o interesse do leitor, e, nesse caso, espectador. Radagast, o mago marrom, tem espaço de sobra na tela para mostrar seu bom humor e sua própria mitologia. Gandalf, o cinzento, mostra porque era tão temido e amado, e muito mais interessante do que sua versão como Gandalf, o branco, que sempre considerei bem insossa. Mais do que isso, o tom do filme é divertido como o livro, as canções são emocionantes e tudo isso levando adaptação a um nível de fã doentio.

Os efeitos especiais, desde a abertura arrebatadora nas cavernas dos anões, aos flashbacks (que você anseia recorrentemente durante a projeção), superam as cenas de batalha de O Retorno do Rei inclusive. A fuga pela caverna de orcs é outro momento que mistura a aventura de Goonies, com a linguagem videogame de tantos jogos de aventura e a emoção de uma montanha russa. O que nos leva às criaturas digitais. O Rei Orc da caverna e o Rei Orc de Moria seriam o suficiente para apavorar o Peter Jackson de 2001 com a perfeição sutil de suas interpretações. Mas ele vai além. A briga dos trolls é crível. Dá nojo e até pena. O Gollum está fenomenal. Andy Serkis faz por merecer uma indicação ao prêmio de melhor coadjuvante. É crível, conquista nos detalhes, nas expressões.

Por fim, tornar a história divertida e agradável ao público comum é a cereja do bolo de Peter Jackson. Quem é fã, vai amar. Quem só assistiu os filmes, vai delirar. Quem se apaixonou por O Senhor dos Anéis após os 180 minutos de duas fitas VHS, vai entender, que a nova trilogia, pode ser a maior aventura de sua vida.

Hanna - Joe Wright muda, acerta na ação, mas se perde no caminho

NOTA: 6/10



Primeiro, um filme de época. Orgulho e Preconceito, a versão mais recente adaptada aos cinemas, com Keira Knightley, foi um sopro de novidade em um gênero irritantemente parecido. As soluções visuais tornaram a história atraente e contemporânea. Depois, filme de guerra. Desejo e Reparação pode ser considerado um dos filmes mais belos e tristes feitos no cinema nos últimos anos. Novamente, narrado com ritmo, belas imagens, um plano-sequência de dez minutos por uma praia francesa, que intercala o horror da guerra e a esperança de uma vida melhor. Por fim, um filme de auto-ajuda e superação. O Solista interpreta a música de forma visual, verborrágica e como única forma de ordem universal. Hanna é o primeiro filme do diretor voltado para o gênero ação/espionagem, novamente com Saoirse Ronan, que recebeu indicação ao Oscar por Desejo e Reparação. E apesar de lidar bem com as cenas de ação, o diretor parece não se encontrar muito bem onde já teve experiências nas outras produções: o meio do caminho.

Hanna foi criada pelo pai em meio à vastidão isolada da Sibéria. Treinada incessantemente na luta e sobrevivência, ela decide encarar o mundo e enfrentar a força da CIA que começa uma caçada para eliminá-la.

Saoirse começa o filme caçando um cervo e antes dos primeiros cinco minutos, já apontou a arma para o espectador e atirou. Olhando para a câmera sem piedade ou remorso ela simplesmente dispara. Não há diferença na vida ou na morte. Ao menos, ela não reconhece se há. Esse tom do distanciamento da realidade pela protagonista se reflete inclusive na sua presença física, completamente fora da realidade do ambiente em que está inserida. Sobrancelhas loiras, corpo esguio que não soa ou se queima, a dificuldade de se relacionar com outros seres humanos, tudo colabora para o estranhamento da personagem. Já Eric Bana e Cate Blanchet estão como os protótipos hollywoodianos de espiões: infalíveis mas imperfeitos. Fora desse triângulo, só se destaca a gangue de sádicos que protagoniza as melhores cenas do filme, mas ainda assim permanecem mal explorados.

A direção de Wright aposta em um clima rápido, com o volume da trilha sonora eletrônica empurrando o espectador em uma montanha-russa, logo na primeira meia hora do filme. É só quando a tentativa de relacionar a personagem com o mundo real começa que ela falha e derruba o ritmo do filme. O estranhamento e a desnecessária interação com personagens sem carisma estagna o Hanna tempo suficiente para tirar o interesse do espectador. A atenção só volta quando em duas cenas incríveis de luta, Wright ignora completamente a edição picotada e confusa da "era Bourne" e aposta em um plano-sequência rápido e inteligente.

Infelizmente, toda a preparação e calma do início do filme acaba por se desenrolar em um desfecho não só previsível como embolado, tentando amarrar muitas pontas soltas em poucos minutos. A garota que nem sequer sabia o que era uma tv descobrindo respostas sobre genética através do computador soa tão desnecessária quanto a metáfora da Chapeuzinho Vermelho entrando na boca do lobo, poucas cenas mais tarde. E quando enfim ela novamente se depara com seu adversário caído e prestes a morrer, fica óbvio que ela não pretendia errar o coração.

Piratas Pirados - A volta ao stop-motion dos estúdios Aardman

8,5 / 10


Lembro de quando era criança ser um fã das animações em massinha de Wallace e Grommit. Lembro nitidamente do episódio onde ambos viajam para a lua para comer queijo, porque como todos sabem, a lua é feita de queijo. É essa deliciosa lógica nonsense inglesa que tanto me conquistou através dos anos. Talvez  por essa ligação desde cedo com a cultura bretã, nunca entendi como algumas pessoas simplesmente não acham graça em Monty Python ou outros programas ingleses. Piratas Pirados e um desses filmes que ousam sair da zona de conforto infantil e apostar, mesmo que levemente, no politicamente incorreto, mesmo que isso signifique lidar com o desgosto de alguns pais que esperam um filme mais infantil e inocente para seus filhos.

O filme é baseado no livro The Pirates! Band of Misfits e mostra a história do Capitão Pirata, um atrapalhado capitão pirata que quer de uma vez por todas levar o prêmio de Pirata do Ano, concedido pelo Rei dos Piratas. Para isso, ele precisa fazer a maior pilhagem de tesouros dos sete mares, mas, com a sua tripulação de perdedores, essa não é uma tarefa muito fácil. Até que ele cruza o caminho de uma figura histórica que vai lhe ajudar a conquistar esse prêmio.

Com os mesmos diretores de Fuga das Galinhas, Peter Lord e Jeff Newitt e produzido pelo estúdio ganhador do Oscar Aardman (por Walace e Grommit - A batalha dos vegetais), Piratas Pirados é de uma beleza que só a animação em Stop Motion consegue trazer. As suaves paradas do processo de animação não impedem a fluidez ou a qualidade do filme, pelo contrário, trazem um certo charme. O roteiro de piadas rápidas, boas referências e leve humor negro carregam a história debochada, conseguindo um tipo de entretenimento e ponto de vista sobre piratas, diferente da sobriedade (pois é) de filmes como Piratas do Caribe, que depois de um ótimo começo, acabou por se transformar em uma franquia dispensável e desinteressante.

O universo criado em Piratas Pirados mostra um bando que valoriza a amizade mas não perde por pilhar saquear e matar se for preciso, mesmo que normalmente quem está em perigo sejam os próprios piratas. A presença de figuras históricas como a Rainha Vitória e Charles Darwin servem de elemento anárquico para criticar a sempre toda poderosa rainha e mesmo os escrúpulos de um dos maiores cientistas, que no fundo no fundo, era só um romântico inveterado. As dublagens inspiradas que contam com Hugh Grant, Martin Freeman (o novo Bilbo Bolseiro) e David Tennant (Dr. Who) colaboram pra transformar o filme em uma grande diversão que dá vontade de voltar a esse universo em busca de mais aventuras.

Valente - Nova animação da Pixar de novo deixa a desejar

Valente
7/10


Em 1995, a Pixar, um estúdio que começava seus trabalhos em parceria com a Disney, lançou o primeiro filme em computação gráfica da história do cinema, Toy Story. Muitos anos e seis Oscar de melhor animação depois, a situação é completamente inesperada. A empresa se fundiu com a Disney, dominou o mercado de filmes animados e seus criadores já migraram inclusive para produções live action, tamanho o respeito que a empresa conquistou com uma base de fãs aficcionados e produções que inclusive disputaram palmo a palmo premiações com filmes do cinema tradicional. Toy Story 3 foi o ápice. A primeira animação a quebrar a barreira do bilhão de dólares, uniformidade da crítica mundial, um filme de qualidade indiscutível e que traçou um padrão problemático para a empresa: como superar? Carros 2 foi um baque forte para a Pixar. O completo oposto de Toy Story 3. Valente, desde o primeiro trailer, prometeu resgatar o "elemento Pixar" que surpreendeu o mundo desde sua criação. Começando pela primeira protagonista feminina da empresa, passando por um tema difícil de não atrair a atenção (cenário medieval, magia e mitologia céltica).

Merida é uma princesa cansada de ser tratada como tal. Ela quer mais do que aquilo que sua mãe planejou para ela. E para isso, pede para uma bruxa mudar seu destino. O problema é que, pra variar, o feitiço sai errado.

A direção é de Mark Andrews, Brenda Chapman e, ainda, Steve Purcell. A divisão entre diretores é algo comum nas produções da Pixar e já alcançou ótimos resultados. Neste caso, Chapman é a única com experiência em longa-metragens, vinda de O Príncipe do Egito, animação em 2D da rival DreamWorks. O problema começa pelo fato de que Chapman saiu do filme em 2010, devido a divergências criativas. Logo, essa mudança se torna visível na produção.

Valente começa de forma divertida, rápida, irreverente e conseguem capturar a atenção do espectador. Aos poucos, as piadas de humor físico e a predileção por personagens fofinhos e inclusive canções(algo que até então era apenas pano de fundo nos filmes da Pixar) acabam por criar desconfiança no espectador sobre o destino que a história deve tomar. É quando surge a reviravolta que irá determinar o rumo do filme da metade em diante e, quando ela acontece, é decepcionante.

Talvez, o pior defeito de Valente seja o potencial desperdiçado. Os bons personagens, a trama, que apesar de já observada em tantos outros filmes da Disney, tem momentos de tirar o fôlego (o torneio de arco e flecha tem uma cena Robin Hoodiniana de dar inveja) e a sempre esmagadora qualidade visual da Pixar, não seguram o filme quando ele deslancha para o processo de restauração familiar que a mãe a filha precisam passar. Todo o tom de bravura do filme acaba por tornar-se quase uma comédia romântica, com situações engraçadinhas, mas sem peso dramático e muito menos um final climático. Basicamente o mesmo background foi trabalhado em Como Treinar o Seu Dragão, mas ali sim, com um crescimento ritmado até culminar em um final épico que condiz com o resto do filme. Valente tem um ou outro momento de tensão, mas ao final da sessão a impressão que fica é de que tudo foi feito com pressa e sem a escalada adequada. A conclusão do filme, que acaba se rendendo ao piegas também não ajuda e acaba por, novamente, não cumprir as expectativas criadas pela Pixar.

No fim, Valente ainda consegue ser um filme diferenciado, mas longe de se comparar a outras produções da Pixar, que no próximo ano tenta mais uma vez retornar a suas origens com a continuação de Monstros S.A.. Uma pena que as histórias originais andem em falta, mas que ao menos, ela reencontre seu caminho.

O Lorax - Animação baseada em Dr. Seuss aposta com tudo no público infantil

O Lorax
Nota: 7/10

Dr. Seuss é um daqueles autores que faz parte da literatura norte-americana de uma forma tão forte que suas adaptações para o cinema são apenas uma questão de tempo. De tempos em tempos, pipoca mais uma produção baseada em seus livros infantis com tremendo sucesso no Estados Unidos, mas sem a mesma força no resto do mundo. O Lorax não é exceção e consegue manter a linha entre diversão e aprendizado de forma divertida e surpreendentemente bem estruturada. Apesar de insistir no cuidado com meio ambiente e sustentabilidade, dois assuntos interligados que estão mais do que batidos em todas as mídias, o filme consegue boas piadas e números musicais ao melhor estilo Disney, apesar de passar bem longe dos estúdios de Mickey Mouse.

O Lorax mostra a história de Ted, um garoto que decide encontrar a última árvore do planeta para conquistar uma garota. Ele conhece o Once-ler, o homem que em sua ganância acabou com as florestas apesar dos avisos do Lorax, uma criatura que protege as árvores.

A Illumination Entertainment estreou com um sucesso inesperado na animação Meu Malvado Favorito. Longe de procurar os público adolescente e jovem, já disputados acirradamente por Pixar e Dreamworks, a empresa aposta no público infantil sem medo de ser feliz. Tanto o Lorax quanto Meu Malvado tem temáticas primárias, protagonistas caricatos e piadas visuais em abundância. Longe de explorar relacionamentos problemáticos ou lidar com questões problemáticas do crescimento e da vida, seus filmes são de simples linguagem, conflito e finais felizes que, querendo ou não, agradam a criançada e não deixam de encantar o público mais velho.

A fluidez da animação que aposta no cartoon sem medo e as cores vibrantes vindas do universo de Seuss, fazem de Lorax uma aventura original, realçada por uma boa dublagem de um elenco inspirado. Mas o que realmente me conquistou em todo o filme foi a canção "How Bad Can I Be?".



Rápida, com boa levada, a música brilhantemente interpretada por Ed Helms transforma o protagonista de um personagem digno de pena há um completo idiota em pouco mais de dois minutos. No rápido clipe, noções de escala cor e inclusive expressionismo alemão reúnem o que de melhor o filme constrói em linguagem visual.

Apesar de tudo, O Lorax acaba por se apoderar de saídas fáceis e clichês característicos de filmes infantis o que ofusca um pouco de seu brilho único e de suas ousadas tentativas de fugir do lugar comum.

A Hora da Escuridão - Blockbuster russo consegue superar a besteirada dos melhores concorrentes holywoodianos



Russos. Ah, os russos! Bons tempos aqueles em que os únicos filmes produzidos na União Soviética retratavam a força do proletariado, a maravilha do governo totalitarista comunista. Atualmente, graças ao diretor e produtor Timur Bekmambetov, a mãe Rússia descobriu seu potencial para produção de blockbusters comparáveis ao melhor pipocão americano. Depois de ganhar o ocidente com Os Guardiões do Dia e Da Noite, Timur revitalizou o cinema nacional, saindo da morbicidade do cinema artístico europeu e pronto para capitalizar. A Hora da Escuridão está aí pra mostrar os belos pontos turísticos de Moscou e para facilitar a compreensão, no bom e velho inglês, com os melhores americanos que o dinheiro pode pagar.

Se você já viu Independence Day, Fim dos tempos, ou qualquer outro filme do estilo, vai perder tempo assistindo The Darkest Hour. O filme recicla não só a sinopse, o começo, meio e fim, mas todos os clichês que nós já verificamos em produções do gênero. Aliens invadem a terra, massacram as capitais sem qualquer sutileza, vaporizam humanos e dominam a Terra. Resta aos sobreviventes resistirem. Entre eles, Emile Hirsch, em seu pior papel até hoje.

Quando alguém diz que em filme ruim, nem um ator bom consegue salvar, não duvide. Hirsch já mostrou ser um ator acima da média em A Natureza Selvagem. Já em A Hora da Escuridão, vemos ele ser reduzido a meia dúzia de frases feitas, trejeitos de moleque, e sem qualquer profundidade ou originalidade em seu personagem. Irrita a forma como o garoto, programador de software, descobre como derrotar os alienígenas elétricos invisíveis (já comentarei sobre eles), quando ninguém mais no mundo tinha sequer ideia do que fazer. O resto de elenco funciona como corpos para serem mutilados ou escada para que nosso herói prove como ele é incrível. Esta lá a garota que fará par com ele, o amigo que se sacrifica, o covarde e a covarde, o homem simples que é um gênio, a garota corajosa e machona, o exército de revolucionários e os militares com todas as soluções para nossos problemas.


Aliens invisíveis: Cuidado Emile, atrás de você!

Sim, os alienígenas são invisíveis e feitos de eletricidade. Na verdade, nas poucas vezes que eles aparecem, você deseja que eles continuassem sem aparecer. Se essa ideia já pareceu estúpida quando o vento matava as pessoas em Fim dos Tempos, aqui ela é mais sem  vergonha ainda. Ponto para o diretor que economizou bons milhões em efeitos especiais e ainda fez um monte de gente correr para os cinemas.





Sob o domínio do medo - Remake de clássico dos anos 70 carrega a mão no culto ao macho vitimizado


Remakes não são boas coisas. Poucas vezes você assistirá a uma repaginação sem sentir que tem algo errado no que está sendo feito. Mesmo aqueles que seguem o passo-a-passo, frame-a-frame do original tendem a perder alguma coisa no caminho. No recente Deixe-me Entrar, remake do sucesso sueco Deixe ela entrar, as pequenas sutilezas que fizeram toda a diferença no original são suprimidas em favor do politicamente correto. O garoto que, na versão europeia, tinha fortes tendências sadistas, aqui, é apenas mais uma vítima de bullying, aquele mal que até dez anos atrás nós chamaríamos de frescura e agora parece mais a descoberta da roda para a sociedade. Sob o domínio do medo reutiliza a estrutura do filme original do genial Sam Peckinpah para apenas atualizar a história com atores que as novas audiências conhecem, mas longe de conseguir o clima de tensão do original. A tentativa, no entanto, é bastante válida.

Tudo começa quando um roteirista de cinema e sua mulher, uma atriz de seriado, decidem voltar para a terra natal da moça. Lá, ele pretende escrever um roteiro sobre o cerco a Stalingrado e como os russos viraram a história da segunda guerra mundial (curioso como tudo aponta para a própria situação do casal nos momentos finais da trama). Na cidade interiorana, Charlie, ex-namorado da garota, e sua trupe de trogloditas rednecks, trabalhará na reforma do celeiro do feliz casal. Aos poucos, a tensão entre o casal e seus novos vizinhos vai saindo de controle, tornando a vida de todos, um inferno.

O elenco do filme é muito interessante, se considerarmos o original. Na época, Dustin Hoffman era tão mirrado e indefeso como hoje. Magrelo, sem graça, a antítese do galã hollywoodiano. O que dizer de James Marsden, senão que ele é provavelmente o maior corno da história do cinema recente (vide X-Men, Superman - O Retorno, Encantada e Diário de uma Paixão, por exemplo). Em uma atuação tão irritante e apática como lhe é solicitado, torna-se o alvo perfeito para sofrer o calvário nas mãos de Alexander Skarsgard (faltou o °), em uma atuação impecável como o protagonista de toda a ira vindoura que deve recair sobre seu personagem. Turrão, grosso e rivalizando com sua ex-namorada na vida real, Kate Bosworth, no que diz respeito a quem fica mais tempo sem roupa durante o filme. O trio levaria o filme nas costas, não fosse por outras participações interessantes como de James Woods, como o lunático "Coach".
 Fecha essa camisa Eric...Charlie!

Após a metade do filme quando a cena que dará o estopim para o cerco à fazenda finalmente acontece é que o filme acaba por perder um pouco de seu impacto. Querendo o não, o estupro é previsto pelo espectador. A forma como ele acontece e como a esposa reage a ele é que não consegue ser tão sentida quando no original. Falta a ligação com a personagem que parece fazer de tudo para que aquilo aconteça, eximindo o marido de seus erros. O remake simplesmente coloca a culpa de tudo o que acontece não na apatia de Marsden, mas na insatisfação de sua mulher. Mesmo que o original deixe claro que isso faz parte de uma tentativa de vingança da esposa, são os pequenos detalhes que fazem com que a nova versão perca a essência de Straw Dogs.

As cenas finais finalmente desforram toda a raiva causada durante o resto do filme e o final animalesco, preenche todas as expectativas do espectador frustrado. O positivo é a última cena, na qual o personagem de Marsden assiste ao celeiro em chamas e que dessa vez superou inclusive o original. Uma cena que simboliza linhas de diálogo que talvez não fossem necessárias depois de tanta verborragia.