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A Hora da Escuridão - Blockbuster russo consegue superar a besteirada dos melhores concorrentes holywoodianos



Russos. Ah, os russos! Bons tempos aqueles em que os únicos filmes produzidos na União Soviética retratavam a força do proletariado, a maravilha do governo totalitarista comunista. Atualmente, graças ao diretor e produtor Timur Bekmambetov, a mãe Rússia descobriu seu potencial para produção de blockbusters comparáveis ao melhor pipocão americano. Depois de ganhar o ocidente com Os Guardiões do Dia e Da Noite, Timur revitalizou o cinema nacional, saindo da morbicidade do cinema artístico europeu e pronto para capitalizar. A Hora da Escuridão está aí pra mostrar os belos pontos turísticos de Moscou e para facilitar a compreensão, no bom e velho inglês, com os melhores americanos que o dinheiro pode pagar.

Se você já viu Independence Day, Fim dos tempos, ou qualquer outro filme do estilo, vai perder tempo assistindo The Darkest Hour. O filme recicla não só a sinopse, o começo, meio e fim, mas todos os clichês que nós já verificamos em produções do gênero. Aliens invadem a terra, massacram as capitais sem qualquer sutileza, vaporizam humanos e dominam a Terra. Resta aos sobreviventes resistirem. Entre eles, Emile Hirsch, em seu pior papel até hoje.

Quando alguém diz que em filme ruim, nem um ator bom consegue salvar, não duvide. Hirsch já mostrou ser um ator acima da média em A Natureza Selvagem. Já em A Hora da Escuridão, vemos ele ser reduzido a meia dúzia de frases feitas, trejeitos de moleque, e sem qualquer profundidade ou originalidade em seu personagem. Irrita a forma como o garoto, programador de software, descobre como derrotar os alienígenas elétricos invisíveis (já comentarei sobre eles), quando ninguém mais no mundo tinha sequer ideia do que fazer. O resto de elenco funciona como corpos para serem mutilados ou escada para que nosso herói prove como ele é incrível. Esta lá a garota que fará par com ele, o amigo que se sacrifica, o covarde e a covarde, o homem simples que é um gênio, a garota corajosa e machona, o exército de revolucionários e os militares com todas as soluções para nossos problemas.


Aliens invisíveis: Cuidado Emile, atrás de você!

Sim, os alienígenas são invisíveis e feitos de eletricidade. Na verdade, nas poucas vezes que eles aparecem, você deseja que eles continuassem sem aparecer. Se essa ideia já pareceu estúpida quando o vento matava as pessoas em Fim dos Tempos, aqui ela é mais sem  vergonha ainda. Ponto para o diretor que economizou bons milhões em efeitos especiais e ainda fez um monte de gente correr para os cinemas.





Sob o domínio do medo - Remake de clássico dos anos 70 carrega a mão no culto ao macho vitimizado


Remakes não são boas coisas. Poucas vezes você assistirá a uma repaginação sem sentir que tem algo errado no que está sendo feito. Mesmo aqueles que seguem o passo-a-passo, frame-a-frame do original tendem a perder alguma coisa no caminho. No recente Deixe-me Entrar, remake do sucesso sueco Deixe ela entrar, as pequenas sutilezas que fizeram toda a diferença no original são suprimidas em favor do politicamente correto. O garoto que, na versão europeia, tinha fortes tendências sadistas, aqui, é apenas mais uma vítima de bullying, aquele mal que até dez anos atrás nós chamaríamos de frescura e agora parece mais a descoberta da roda para a sociedade. Sob o domínio do medo reutiliza a estrutura do filme original do genial Sam Peckinpah para apenas atualizar a história com atores que as novas audiências conhecem, mas longe de conseguir o clima de tensão do original. A tentativa, no entanto, é bastante válida.

Tudo começa quando um roteirista de cinema e sua mulher, uma atriz de seriado, decidem voltar para a terra natal da moça. Lá, ele pretende escrever um roteiro sobre o cerco a Stalingrado e como os russos viraram a história da segunda guerra mundial (curioso como tudo aponta para a própria situação do casal nos momentos finais da trama). Na cidade interiorana, Charlie, ex-namorado da garota, e sua trupe de trogloditas rednecks, trabalhará na reforma do celeiro do feliz casal. Aos poucos, a tensão entre o casal e seus novos vizinhos vai saindo de controle, tornando a vida de todos, um inferno.

O elenco do filme é muito interessante, se considerarmos o original. Na época, Dustin Hoffman era tão mirrado e indefeso como hoje. Magrelo, sem graça, a antítese do galã hollywoodiano. O que dizer de James Marsden, senão que ele é provavelmente o maior corno da história do cinema recente (vide X-Men, Superman - O Retorno, Encantada e Diário de uma Paixão, por exemplo). Em uma atuação tão irritante e apática como lhe é solicitado, torna-se o alvo perfeito para sofrer o calvário nas mãos de Alexander Skarsgard (faltou o °), em uma atuação impecável como o protagonista de toda a ira vindoura que deve recair sobre seu personagem. Turrão, grosso e rivalizando com sua ex-namorada na vida real, Kate Bosworth, no que diz respeito a quem fica mais tempo sem roupa durante o filme. O trio levaria o filme nas costas, não fosse por outras participações interessantes como de James Woods, como o lunático "Coach".
 Fecha essa camisa Eric...Charlie!

Após a metade do filme quando a cena que dará o estopim para o cerco à fazenda finalmente acontece é que o filme acaba por perder um pouco de seu impacto. Querendo o não, o estupro é previsto pelo espectador. A forma como ele acontece e como a esposa reage a ele é que não consegue ser tão sentida quando no original. Falta a ligação com a personagem que parece fazer de tudo para que aquilo aconteça, eximindo o marido de seus erros. O remake simplesmente coloca a culpa de tudo o que acontece não na apatia de Marsden, mas na insatisfação de sua mulher. Mesmo que o original deixe claro que isso faz parte de uma tentativa de vingança da esposa, são os pequenos detalhes que fazem com que a nova versão perca a essência de Straw Dogs.

As cenas finais finalmente desforram toda a raiva causada durante o resto do filme e o final animalesco, preenche todas as expectativas do espectador frustrado. O positivo é a última cena, na qual o personagem de Marsden assiste ao celeiro em chamas e que dessa vez superou inclusive o original. Uma cena que simboliza linhas de diálogo que talvez não fossem necessárias depois de tanta verborragia.