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Detona Ralph! - Universo gamer é homenageado em animação voltada para as crianças

Nota: 7,5


As adaptações da cultura gamer para o cinema sempre esbarram na mediocridade. Na indecisão de favorecer o público fã ou adaptar para uma realidade cinematográfica, o desastre torna-se inevitável. Dos exemplos de sucesso, mal pode-se citar Mortal Kombat e alguns filmes da série Resident Evil. Em compensação na sessão vergonha alheia, basta lembrarmos daquela versão patética de Street Fighter, com Jean-Claude Van Damme, Super Mario Bros. e Double Dragon, na década de 90. Nos anos 2000, um diretor alemão chamado Uwe Boll conseguiu transformar clássicos dos games em montes de esterco, chegando a levar o prêmio Ed Wood de Pior diretor da década. São dele os trashes como Alone in the Dark, BloodRayne, Far Cry e o já clássico da tosqueira, House of the Dead.
Detona Ralph tenta dar um pouco de dignidade a esse universo que não consegue ter um bom reflexo no cinema. Homenageando desde os arcades até os primeiros consoles, o filme está bem localizado na cultura gamer. Infelizmente, a fachada de gamemaníaco falha quando a história tenta se voltar para as resoluções de fácil assimilação do público infantil.

A história acompanha Detona Ralph, um vilão de fliperama, que tem como missão há 30 anos, destruir o prédio onde vive o protagonista de seu jogo, Fix It Felix. Chega o momento em que Detona desiste de ser um vilão e parte em uma missão para ser o novo herói dos videogames.

Diretor egresso da televisão, de programas como Futurama e Os Simpsons, Rich Moore estreia em longa-metragens também como roteirista. Utiliza de maneira inteligente os detalhes da estética pixelizada dos jogos de 8-bits, cria momentos de ação que emulam os games dos mais diversos gêneros. É na hora da construção dos personagens, como em A Origem dos Guardiões, que o filme acaba perdendo seu impacto. De um começo interessante, a um relacionamento estilo Monstros S.A., Detona Ralph! parece querer forçar o espectador a simpatizar com a menininha levada que é um bug do jogo Sugar Rush, um daquele jogos de corrida com cenários rosas e repletos de product placement. Não apenas os personagens não convencem com sua amizade-óbvia-mas-improvável, como as referências com a cultura gamer desaparecem e a animação passa a ser apenas mais um filme infantil.

O roteiro tenta deixar claro desde os primeiros minutos de projeção que o filme utilizará elementos pops dos games, como é o caso dos personagens de Street Fighter, Super Mario Bros., Sonic e Pac Man em sua narrativa, mas, após uma breve participação especial, eles desaparecem. Sobram apenas os personagens criados para o filme, que não compensam a expectativa criada pelos trailers. Além disso, o mundo do fliperama, com dezenas de jogos participantes, dá lugar ao mundo de Sugar Rush, onde o filme se passa quase que inteiramente.

O que falta a Detona Ralph! é o que sempre falta aos filmes de videogame: a adaptação da linguagem como solução visual para uma história. Até hoje, Scott Pilgrim Contra o Mundo é a melhor interação entre gamers e cinema, mas baseado em uma HQ. Detona Ralph! só deveria ter entendido que utilizar personagens conhecidos não é o suficiente para satisfazer os fãs do gênero.

Origem dos Guardiões - Equipe de super fábulas tem boa premissa, mas não cumpre o que promete

Nota: 6/10



O Papai Noel com os dois braços tatuados (Nice e Naughty), um Coelho da Páscoa australiano (quase um canguru), Jack Frost (praticamente desconhecido no Brasil, onde ele aparentemente não aparece há uns bons anos), a Fada do Dente e o Sandman (João Pestana no Brasil), uma equipe de super-heróis que protegem as crenças infantis do Bicho Papão. Essa premissa empolga. As artes da animação mexem com o espectador. Tudo se encaminha para uma sessão de muita ação e entretenimento. Até começarem os primeiros bocejos.

Dirigido por Peter Ramsey, já conhecido por aquela outra bomba, Monstros Vs. Alienígenas, A Origem dos Guardiões peca pela conversa fiada. As cenas de ação não empolgam pois o inimigo (uma espécie de Loki infantil) não consegue intimidar. É a clássica questão do muito papo para nada. Se ele fosse realmente mau, simplesmente acabava com os guardiões e terminava o filme como senhor do universo. Mas esse não é o problema da direção. A responsabilidade de Ramsey é aproveitar a duração do filme para fazer o público se importa com seus personagens. Mas na tentativa de mostrar todos os detalhes de cada um dos guardiões, o diretor esquece de criar essa profundidade e aligação com o público. As histórias são as mesmas que já foram usadas por tantos filmes: o herói que não aceita seu fardo e precisa descubrir seu valor. Frost não é um personagem tão carismático a ponto de ser um protagonista em um filme que precisa de aceitação mundial.

Soma-se a isso o ritmo lento, intercalado por muitos diálogos vazios e cenas melodramáticas, tornando o vilão um inimigo repetitivo e sem a capacidade de manipulação verdadeira ou perigo de um Loki. Mesmo o visual do filme não explora a capacidade de escala que se tornou marca dos filmes da DreamWorks e, apesar de algumas soluções estéticas interessantes, cai no limbo dos filmes empacotados para uma Sessão da Tarde.

O Hobbit - A versão 2.0 do cinema

O Hobbit - A versão 2.0 do cinema
Nota: 10




Eu lembro que assisti Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel, em duas fitas vhs locadas na minha cidade. Não esperava muito. Me surpreendi. Fiquei hipnotizado. Fui absorvido. Era uma visão do fantástico catártica, elevava os filmes do gênero a outro nível. Nunca mais um filme épico seria igual, Peter Jackson garantiu isso. Foi uma trilogia perfeita, provavelmente, o que Star Wars simbolizou em uma outra época, O Anel marcou a geração dos anos 2000. E quase como Star Wars, a trilogia tornou-se um projeto de hexologia. Mas O Hobbit não tem nada da decepção que foi a Ameaça Fantasma. Pelo contrário, é provavelmente um novo patamar no cinema épico. Provavelmente o melhor filme de fantasia já feito.

Antes de Frodo, Bilbo Bolseiro participou de uma aventura quase tão épica quanto a da Sociedade do Anel. Junto com um grupo de anões, o relutante hobbit, parte em direção a Montanha Solitária, na tentativa de reaver o tesouro e o lar de toda uma civilização. Mas, antes, um dragão terá que ser derrotado.

Diferente do que costumo relatar em minhas críticas, vou enfatizar os pontos fracos do filme antes de me aprofundar nos pontos positivos. Em relação ao excelente livro de J. R. R. Tolkien, O Hobbit difere em alguns pontos que compõe a personalidade do Bolseiro e que considero fundamentais para a narrativa. Existe uma dualidade poderosa em Bilbo, uma guerra entre o lado Tûk  e o lado Bolseiro, que senti falta nessa primeira parte. O protagonista ficou meio esquecido entre a grandiosa história de Torin, as proezas de Gandalf e até quando ganha espaço maior, no duelo de adivinhas, Gollum e sua atuação soberba digital se sobressai. Uma pena. Martin Freeman é um grande ator que poderia levar o filme nas costas se necessário.

O filme também simplifica as lições disseminadas pelo livro para tornar cada parte independente. Heroísmo piegas, resoluções simplistas quase são um problema ao longo das quase três horas de projeção e poderiam diminuir a qualidade de O Hobbit, não fosse suas curtas durações.

Acho que é isso.

Peter Jackson conseguiu novamente. Melhor, ele criou um novo limite no que se refere a adaptações, efeitos especiais e cinema blockbuster. Na adaptação, o filme reúne não apenas a linha principal do livro, mas se dá ao luxo de utilizar seu tempo para investigar inclusive os subtextos e histórias secundárias que despertam completamente o interesse do leitor, e, nesse caso, espectador. Radagast, o mago marrom, tem espaço de sobra na tela para mostrar seu bom humor e sua própria mitologia. Gandalf, o cinzento, mostra porque era tão temido e amado, e muito mais interessante do que sua versão como Gandalf, o branco, que sempre considerei bem insossa. Mais do que isso, o tom do filme é divertido como o livro, as canções são emocionantes e tudo isso levando adaptação a um nível de fã doentio.

Os efeitos especiais, desde a abertura arrebatadora nas cavernas dos anões, aos flashbacks (que você anseia recorrentemente durante a projeção), superam as cenas de batalha de O Retorno do Rei inclusive. A fuga pela caverna de orcs é outro momento que mistura a aventura de Goonies, com a linguagem videogame de tantos jogos de aventura e a emoção de uma montanha russa. O que nos leva às criaturas digitais. O Rei Orc da caverna e o Rei Orc de Moria seriam o suficiente para apavorar o Peter Jackson de 2001 com a perfeição sutil de suas interpretações. Mas ele vai além. A briga dos trolls é crível. Dá nojo e até pena. O Gollum está fenomenal. Andy Serkis faz por merecer uma indicação ao prêmio de melhor coadjuvante. É crível, conquista nos detalhes, nas expressões.

Por fim, tornar a história divertida e agradável ao público comum é a cereja do bolo de Peter Jackson. Quem é fã, vai amar. Quem só assistiu os filmes, vai delirar. Quem se apaixonou por O Senhor dos Anéis após os 180 minutos de duas fitas VHS, vai entender, que a nova trilogia, pode ser a maior aventura de sua vida.